Era uma vez um exame. Era tão fácil, tão fácil que é impressionante como é que alguém não o havia de passar. Sabem como é, ano de eleições... Era a versão 2. Pessoalmente, achava as versões 1 uns metidos, sempre com a mania que eram melhores. Chegou um dia que os meteram a todos, 1 e 2, no mesmo saco. Foi uma gritaria do pior, os 1 não queriam ficar com os 2, os 2 não queriam ficar com o 1, no fundo estavam todos era com medo da separação que iam sofrer em breve. No meio da algazarra alguém se lembrou de dizer, párem com isso, e ficaram todos alternados, 1, 2, 1, 2, 1, 2, para se habituarem à ideia. Estavam todos na penumbra até que a D. Tesoura-preta-de-dentro-do-envelope deu-lhes luz, abrindo o saco. O nosso exame depara-se com as mãos da professora e assim fica, apreendendo a realidade que o rodeia. As recomendações no quadro. O ar nervoso dos alunos. Espero que não usem corrector, pensa ele, custa tanto a sair, a mãe mata-me. Rapidamente é posto à frente dum rapaz, que começa logo a lê-lo. Em 40 minutos está resolvido. Uau, pensa o exame, desta vez sou mesmo fácil. Mas nem todos têm essa sorte. Ao seu lado, um versão 2 está em branco, ao não ser pelo cabeçalho, e por mais que conjuguem esforços, nem ele nem a bela folha-de-ponto, prontinha para ser estreada, conseguem arrancar uma palavra da aluna que olha para o nada e que nem sequer pegou na caneta outra vez. Um bocado mais à frente, vê, e dá-lhe vontade de rir, um versão 1 a ser cuidadosamente riscado por uma compenetrada aluna que faz questão que se perceba que o que escreveu está mal.
O exame está cansado e teme o seu futuro. Não sabe se será rasgado num acesso de fúria quando tocar para a saída, ou se será levado para casa, e, se for, se será posto numa gaveta empoeirada para nunca mais, ou se será posto numa moldura para ser sempre recordado. De qualquer das maneiras, já cumpriu o seu dever e, independentemente do seu destino, viverá feliz para sempre.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
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